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Após queda de árvore, restos mortais e rituais antigos são descobertos no Brasil

“As urnas estavam escondidas sob uma antiga moradia indígena, em uma elevação feita manualmente com terra e cerâmica para resistir às cheias

15/06/2025 19h57
Por: Redação

Se tem uma coisa que aprendemos com os filmes de Hollywood e as tumbas do Egito, é que mexer com o que está enterrado pode dar ruim. E se não dá, no mínimo, revela segredos que o tempo tentou esconder com uma certa razão. Mas no coração do Amazonas, nem precisa escavação high-tech: basta uma árvore cair.

 

Foi exatamente o que aconteceu em Fonte Boa (AM), onde a queda de uma árvore aparentemente inocente derrubou junto séculos de silêncio e trouxe à luz sete urnas funerárias indígenas, com ossos humanos e restos de refeições milenares. Sim, o nosso passado literalmente brotou do chão. E, ao contrário dos filmes, aqui ninguém correu gritando “Múmiaaaa!”, mas os arqueólogos tremeram de empolgação.

 

A descoberta ocorreu numa ilha artificial (isso mesmo, a “engenharia civil” indígena já estava em prática muito antes do concreto armado). Construída com terra e fragmentos cerâmicos, a estrutura foi erguida por povos originários para resistir às temidas cheias do rio. E foi debaixo dessa engenharia ancestral que repousavam os recipientes mortuários.

 

As urnas, cuidadosamente enterradas a 40 cm de profundidade, revelam não só práticas funerárias, mas também hábitos alimentares (sim, os nossos antepassados faziam enterros com quitutes à base de peixe e quelônio e você achando que o prato típico era só o tacacá).

 

Geórgea Layla Holanda, uma das pesquisadoras da expedição, explicou que as urnas não tinham tampas visíveis, o que pode indicar uso de materiais orgânicos. Já Márcio Amaral, arqueólogo do Instituto Mamirauá, descreveu a técnica indígena como “sofisticada” com a mesma admiração que engenheiros da NASA usam pra falar de robôs em Marte.

 

E como toda boa descoberta amazônica, ela veio com o toque da sabedoria popular: foi o comunitário Walfredo Cerqueira que, ao ver as fotos das urnas depois da queda da árvore, decidiu procurar ajuda. Porque na Amazônia, arqueologia também é trabalho em equipe com padre, barco, cipó e muita coragem.

 

A operação para retirar e transportar as urnas até Tefé pareceu coisa de missão da SWAT: envolveu filme plástico, gesso, plástico bolha e um carinho que nem suas louças da avó recebem na mudança. Resultado? Chegaram “não intactas por sorte, mas por método”, como disse a pesquisadora. E isso, senhoras e senhores, é ciência com afeto.

 

As primeiras análises sugerem que estamos diante de uma tradição ainda desconhecida, com cerâmica feita de argila esverdeada e decorada com faixas vermelhas talvez uma espécie de “artesanato simbólico” usado para se despedir dos entes queridos com beleza e respeito.

 

No fim das contas, a queda da árvore revelou mais do que um punhado de ossos: escancarou o quanto a história da Amazônia é profunda, sofisticada e ainda cheia de camadas a serem desenterradas de preferência, sem levantar maldições.

 

Como bem disse Amaral: “Essa foi uma arqueologia de dentro pra fora”. E, se me permitem, talvez também de cima pra baixo com a árvore caindo e os segredos subindo.

 

 

 

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